A mitologia grega é, dentre todas as demais mitologias, a mais conhecida para nós ocidentais, mas também foi a mais empobrecida, porque foi dessacralizada. Os mitos, heróis e deuses foram banalizados e com isso perderam muito do poder mítico simbólico. A importância do símbolo é muito grande, pois é uma palavra de origem grega que significa “aquilo que une”, assim como a palavra diabolo significa “aquilo que separa”. De diabolo deriva a palavra diabo, para expressar o que divide e separa o ser humano da divindade essencial.
Os
mitos e símbolos falam ao psiquismo humano sob o seu aspecto mais profundo. Na
mitologia os desafios e combates dos heróis são travados no interior dos seres
humanos. Os mitos, deuses e heróis conduzem a mente à observação íntima, que
por sua vez provoca autodescobertas. A visão mítica da existência está presente
na história de todos os povos, e é uma expressão de uma realidade supraconsciente.
Os mitos mostram o conflito interior dos seres humanos entre o bem e o mal, a
evolução e a involução. Os deuses e heróis personificam, nas narrativas mitológicas,
os valores estruturais, e demonstram que a moralidade está além das convenções
sociais e culturais, que é um fenômeno consciente e inerente a manifestação da vida.
A
consciência é a pré-ciência, o conhecimento prévio das leis e valores
fundamentais que regem a vida. Com o intuito de descobrir a causa primeira, o
Mistério, e obter a compreensão física e metafísica da vida como extensão desse
Mistério, a humanidade criou as diferentes mitologias. Afinal, o Mistério em si
mesmo não é um conceito, e é perceptível para os homens como revelação, uma
epifania espiritual. E o mito concretiza e dá forma às inúmeras facetas do
Mistério, o inominável e incognoscível, através de símbolos e imagens. Os mitos
simbolizam a presença enigmática da divindade na criação e condução da vida, e
indica o fluir e o refluir do Princípio Transcendente como fonte de energia inesgotável
que permeia a existência no tempo e além dele.
TEOGONIA
Urano e Gaia |
Na
mitologia grega o caos que precede a manifestação do universo não significa
apenas o estado da matéria não diferenciada, nem um estado preexistente onde
tudo era possibilidade. É também o caos que se instala na mente humana quando
buscamos a explicação para o que existia antes da existência do universo, e
qual a origem do universo, do mundo e da criação. O Mistério é a essência primordial
e a origem de tudo que existe e tem forma. Portanto, tudo que foi criado e é
aparente, ou seja, tem forma, é composto de essência e matéria. As primeiras
formas que irrompem do Mistério são a Matéria-Mãe e o Espírito-Pai. O Céu e a Terra
são inicialmente personificados por Urano e Gaia, respectivamente.
MITO DA CRIAÇÃO
Numa
região fora do tempo, Urano vê Gaia e se enamora dela. Determinado a conquistar
Gaia Urano, a envolve com o seu manto estrelado e se une a ela. Como consequência
dessa união surgem como os primeiros filhos; as forças elementares, as
instabilidades atmosféricas, as erupções vulcânicas e a separação das águas, ou
seja, a formação dos oceanos e da terra firme. Os elementos se desencadeiam e
assumem a forma dos Titãs, dos Ciclopes e Hecatônquires, os gigantes de cem
braços. Os três representam os cataclismos pelos quais Gaia se prepara para
fazer de si mesma um local propício para abrigar a vida.
Os
elementos têm um aspecto construtivo simbolizado pelos Ciclopes e Hecatôquires,
e um aspecto destruidor simbolizado pelos Titãs. Essa oposição entre os irmãos
é fruto da discórdia inicial entre Gaia e Urano, simbolizando a união-oposição
entre a matéria e o espírito. Urano se revolta com o comportamento devastador
dos Titãs, seus filhos e adversários, e os lança no Tártaro. Gaia então liberta
das profundezas os seus filhos prediletos e os incita para que enfrentem Urano
e o destruam. Cronos, o Tempo, filho de Urano e Gaia, emascula seu pai, cujo
penis amputado atravessa as dimensões e cai nos oceanos, formando grandes ondas
e enorme quantidade de espuma. Dessa espuma nasce Afrodite, a deusa do amor e
da beleza. Com ela, nascem também os primeiro germens e as primeiras formas evolutivas
da vida no planeta. Do sangue de Urano nascem as Erínias, a culpa, embora
exista outra versão que diz serem as Eríneas filhas de Hades, o senhor das
profundezas.
Como
Urano era imortal, a sua “morte” é uma metáfora do fim de uma etapa na evolução
da vida na Terra-Gaia. Cronos se apodera do falo decepado de Urano e também
gera filhos com Rea, outra denominação de Gaia. À medida que os filhos nascem,
Cronos os devora.
Urano
aconselha Rea, que simboliza a etapa da efervescência da vida planetária, a
salvar da fome insaciável de Cronos os seus últimos filhos: Zeus, Poseidon e
Hades, e as suas irmãs Héstia, Demeter e Hera. Quando Cronos ia devorar Zeus,
Rea ofereceu-lhe uma enorme pedra para ser engolida no lugar de seu filho.
Cronos engole a pedra, pois o tempo é cego e não distingue objetos, de animais,
plantes, minerais e seres humanos, e não poupa nada nem ninguém de sua sanha
devoradora. Outra etapa evolutiva foi cumprida, Rea oferece a Cronos, o tempo, o
que ela tinha de mais denso, para inaugurar um patamar mais sutil da
existência, uma era consciente, o grande salto na evolução da vida.
Salvo
por Rea, Zeus destrona Cronos e o obriga a devolver a vida de seus irmãos e
irmãs. Os vencidos, Cronos e os Titãs, são lançados nas crateras dos vulcões
por Zeus. O fogo é símbolo da transformação e da purificação e transmutação e é
também símbolo do Espírito. Poderíamos dizer que a partir desse momento a vida
na Terra torna-se consciente e se manifesta de forma mais elevada e
espiritualizada. E por isso a vida consciente se apresenta e evolui através da
aspiração humana supraconsciente pelo mais elevado e grandioso. Aspiração esta
que tem como símbolos as divindades olímpicas e os heróis, seus apadrinhados e
protagonistas da procura pelo autoconhecimento e construção da verdadeira
identidade humana.
O MITO PELASGO DA
CRIAÇÃO
Segundo
os pelasgos, quando nada exista e tudo era possibilidade, surgiu no infinito e
incógnito a Mãe da Criação – a deusa Eurínome, a criadora de todas as coisas. Ela
emergiu de regiões do céu profundo dançando a dança da vida. Dançando, ela criou
as estrelas e os planetas, e criou para cada um deles um espaço determinado, e
um deus, que por eles se responsabilizou. Distribuiu no espaço profundo as
constelações e escolheu um planeta para a divina experiência da existência
humana. O planeta escolhido foi a Terra.
Visando
criar um ambiente propicio para a florescência da sua criação, a deusa logo separou
os mares e criou territórios firmes. A seguir, voando nas asas dos ventos, ela
girou continuadamente até que sentiu o frio magoar seu corpo; para se aquecer,
esfregou suas mãos; desse atrito surgiu Ofião, uma enorme serpente gasosa e
úmida que logo dela se enamorou e, cheia de paixão, anelou-se em seu corpo e a
inseminou.
A
deusa então se metamorfoseou em uma enorme pomba branca e, livre do abraço de
Ofião, voou sobre o oceano até que, na hora devida, depositou nas águas o Ovo
Universal. A deusa reassumiu sua forma humana, convocou Ofião outra vez e ordenou
que ele se enrolasse por sete vezes nesse Ovo Cósmico. Quando chegou a hora da
manifestação, o Ovo se partiu em dois e dele saíram o Sol e a Lua, a atmosfera,
os rios, os cristais, as plantas, os animais providos de escamas, de penas e de
pelos e o primeiro homem, o ancestral dos pelasgos, Pelasgo. E dele nasceram
inúmeros outros que viviam andando pelos campos da Arcádia, e alimentavam-se da
carne de animais, de frutos e nozes, e para proteger o corpo das intempéries
vestiam-se com roupas feitas de pele de porco.
MITOS DA CRIAÇÃO HOMÉRICOS E ÓRFICOS
Os
mitos homéricos acreditam que a deusa Tétis, Senhora das Águas Abissais, se
uniu ao deus Oceano, cujas correntezas envolvem a Terra, e assim tornou-se a
mãe de todas as criaturas vivas.
Já
os órficos dizem que em certo momento, em uma região fora e além do tempo,
havia uma deusa de enormes asas negras chamada Noite. A deusa Noite vivia numa
caverna escura e inexpugnável. Em dado momento ela se dividiu e formou uma
tríade: Lei, Ordem e Justiça. Depois disso, com grande estrondo, a deusa saiu
da caverna e logo foi cortejada pelo deus dos movimentos infinitos, o Vento.
Apaixonaram-se e se uniram, e dessa união nasceu um grande Ovo de Prata que foi
depositado pela deusa na imensidão das águas primordiais. Esse Ovo continha a
vida e o esplendor da sua diversidade em estado latente. Do Ovo de Prata o
primeiro a surgir foi Eros, o deus do amor, que, ao nascer, colocou o Universo
em movimento e fez a vida se manifestar como uma realidade palpável, ainda que em
mutação constante.
AS CINCO IDADES DO HOMEM
Diz
outro mito que a Mãe Gaia gestou e espontaneamente deu à luz a natureza e
alguns seres primitivos. Os filhos de Gaia se desenvolveram em cinco etapas. Os
primeiros seres humanos foram chamados semidivinos e frutos da raça de ouro;
eles viviam sem preocupações, não precisavam trabalhar e se alimentavam de
frutas, amêndoas, mel e do leite de ovelhas e cabras. Esses homens e mulheres
nunca envelheciam e viviam muito alegremente; confiavam na vida e a nada se
apegavam; por isso, não temiam a morte. Após morrerem, esses seres que formaram
a raça de ouro permaneceram vivos em espírito numa dimensão superior, de onde inspiram
seus descendentes, dando orientações de como obter boa sorte, ao mesmo tempo em
que zelam pela sustentação da criação.
Depois
da raça de ouro ter cumprido o seu ciclo surgiu a raça de prata. Os homens
dependiam inteiramente de suas mães e as obedeciam com submissão.
Alimentavam-se do pão que era oferecido pelos deuses e viviam mais de cem anos.
Eram homens fortes porém, ignorantes da própria força, eram cordatos e não guerreavam
entre si. Zeus os destruiu porque não reverenciavam os deuses.
A
raça de bronze sucedeu a de prata. Nessa era os homens já nasceram portando
armas de bronze e tinham prazer em guerrear entre si. Alimentavam-se de pão,
carne de animais e frutas. Como eram muito irascíveis, impiedosos e insolentes,
foram eliminados pela deusa da Morte. A quarta raça também era de bronze, mas
os seres eram mais nobres, belos e generosos. Eles foram criados pelos deuses
que os inseminaram no ventre das mulheres mortais que existiam no planeta. Esses
homens foram heróis divinizados, e hoje vivem nos Campos Elíseos e inspiram
valores e princípios aos seus descendentes na Terra.
A
quinta raça é a atual humanidade, que é conhecida como a Idade do Ferro. Reza o
mito que essa raça que existiria na idade do ferro seria indigna dos seus
ancestrais porque se afastaria muito da divindade e dos princípios. Seria uma
raça desigual, inteligente e ignorante ao mesmo tempo, cruel, e injusta, porque
abandonaria crianças e velhos; os homens seriam corruptos e explorariam as
mulheres; também seriam gananciosos e libidinosos.
Como
podemos observar lendo esses mitos, as coincidências entre eles e outras
narrativas encontradas em outras mitologias como na hebraica, na hindu e na egípcia,
remetem-nos à teoria do conhecimento único que foi espalhado pelo mundo e
traduzido de maneiras diversas na forma de representação exterior, porém
obedecendo ao mesmo conteúdo.
É
impressionante a semelhança desse mito das idades do homem com o pensamento
védico da Índia. Principalmente no que concerne à Idade do Ferro, a atual era.
No Rig Veda a descrição é praticamente a mesma, e a idade é chamada Kali Yuga.
Assim,
podemos perceber que a totalidade do humano está presente nos mitos. Eles
narram a inquietação da inteligência humana e a necessidade da alma de saber
sua origem, assim como a origem do universo, e de desvendar os mistérios da
vida e da morte.
O
destino humano no seu aspecto essencial obedece aos ditames do
ego-personalidade, do inconsciente e do supraconsciente. Os mitos transcendem o
raciocínio linear e nos impõe o raciocínio analógico, e este busca o que nos
une e não o que nos separa enquanto espécie. Os símbolos e mitos são a
linguagem do inconsciente e do supraconsciente; eles reaproximam a memória
objetiva da abstração criativa e da grandeza contida na trajetória do espírito:
a vida na forma, a morte e a imortalidade. O poder do sagrado se revela através
do despertar de uma visão integral e unificadora da concepção e do significado
da vida. Os mitos e símbolos contêm um dinamismo revelador que é a força
evolutiva sempre presente e atuante no psiquismo humano.
OS DEUSES E PLANETAS COMO REGENTES ASTROLÓGICOS
Os signos astrológicos estão sob a regência dos deuses em todas as mitologias. Cada deus seria um Logos planetário. Na astrologia ocidental como na oriental existem para cada signo os regentes mundanos e os regentes esotéricos. A palavra esotérico define o conhecimento oculto, a sabedoria interior. Segundo a astrologia ocidental e oriental os regentes esotéricos ensinam qual a missão a ser desempenhada na vida, o carma antigo a ser superado, e as novas lições a serem aprendidas na vida atual. Os regentes mundanos, o Sol e o Ascendente indicam nossa atuação no mundo exterior e os problemas a serem enfrentados no ambiente em que atuamos. Há um conceito importante: trata-se da integração dos opostos, os extremos polares da roda zodiacal. Os doze signos formam o zodíaco assim como as seis polaridades. Defronte de cada casa do zodíaco está o seu oposto quer mutáveis quer fixos, e os pontos cardeais. Os deuses e planetas são arquétipos que delineiam as tendências da personalidade e do destino a ser cumprido pelos indivíduos regidos por cada signo.
Regentes esotéricos
Áries – Mercúrio
Em
todas as mitologias e tradições culturais encontramos a metáfora da passagem
para a outra margem como a travessia feita pela alma. do mundo dos vivos para o
mundo dos mortos. Os egípcios acreditavam que as almas mudavam de dimensão após
a morte e faziam a travessia dimensional dentro da barca solar, o budismo se
refere a passagem para a outra margem do rio como a passagem da ignorância para
a sabedoria e também da vida para a morte, e os gregos acreditavam que os rios
Estige e Aqueronte dividiam o
territórios dos vivos do território dos mortos. A travessia das almas era feita
por Caronte o barqueiro, o condutor das almas. Para fazer a travessia, Caronte
exigia uma moeda de ouro como pagamento, quem não pudesse pagar o exigido
vagaria pelas margens dos rios durante cem anos esperando pela travessia. Por
esta razão os gregos antigos colocavam dentro da boca dos mortos, mais
exatamente debaixo da língua, uma moeda, e com isso garantiam o pagamento da
passagem da alma para a outra margem. Desta forma estava assegurada a
libertação da alma, e a continuidade do processo evolutivo. A vida após a morte
também era uma crença entre os gregos antigos. Antigas escavações e descobertas
de sepulturas gregas do século IV a.C atestam isso através dos desenhos de
vasos, ânforas e inscrições nas lápides.
CRONOS E KAIRÓS
Existem
vários tipos de tempo. O tempo linear sequencial e mensurável por dias, horas,
minutos, segundos e que se apresenta como começo meio e fim. O tempo cíclico
que também tem começo e fim, mas, que segue os movimentos da Terra e da Lua,
das estações do ano e os períodos de nascimentos e mortes dos seres da
natureza. Existe o tempo quantitativo e o tempo qualitativo. Na mitologia grega
o tempo quantitativo é regido por Cronos, e o tempo qualitativo é regido por
Kairós. Kairós é filho de Cronos e tanto pode ser um aspecto do próprio pai, o
tempo impermanente, quanto de Aevum, a eternidade, um tempo sem tempo. É
interessante notar que Kairós está associado a todos os deuses como
manifestação de cada um deles. Cronos é o tempo que pode ser medido, o tempo
dos homens, e Kairós é imensurável, porque é o tempo dos deuses, o tempo
sensitivo, o tempo da alma. Podemos dizer que Cronos é o tempo observado e
vivenciado pela cabeça, e Kairós o tempo regido pelo coração. Nós, os seres
humanos sofremos basicamente porque nos sentimos prisioneiros do tempo
cronológico. Acreditamos-nos impotentes diante de Cronos. Sofremos pelo que já
passou, e pela expectativa do que virá no futuro, e desse modo empobrecemos o
presente, que é o nosso tempo de poder. O momento presente contem o passado e o
futuro e dele dispomos para criar oportunidades e novas realidades. Kairós é o
aspecto da potencialidade ampla, da escolha correta, no momento adequado.
Kairós nos ensina a esperançar, e Cronos a esperar; ou seja, Kairós é o tempo
movimentado pela confiança e pela fé, e Cronos o tempo da dúvida, da ansiedade
e da insegurança. Nossa vida está sujeita a Cronos e Kairós. Faz parte do
aprendizado humano saber administrar esses dois tipos de vivencia do tempo.
Cronos, no nosso dia a dia é o tempo rotineiro e burocrático, e não podemos
fugir dele, porem, se procurarmos focar nossa atenção e viver intensamente cada
momento descobriremos detalhes e vertentes que mudam o sentido do que estamos
fazendo, e assim enriquecemos a experiência interior Kairós, provocada pelas
nossas atividades cotidianas. Para isso precisamos viver Cronos e Kairós
compatibilizando o exterior com o interior, e aproveitar o tempo que nos cabe,
dando a cada momento a importância, o valor e o significado que merecem.
O símbolo é um instrumento de integração entre alma e corpo. A simbolização como um todo representa nossos anseios mais profundos. Por isso o símbolo transcende o tempo e o espaço, diante de um símbolo a mente é remetida a regiões recônditas do nosso ser. O símbolo, o herói ou deus mitológico revelam a totalidade do humano, e não apenas aspectos isolados do ego, do subconsciente ou do inconsciente, O símbolo e os mitos nos remetem diretamente ao supraconsciente, o domínio do nosso ser profundo. As batalhas dos heróis míticos simbolizam as batalhas da humanidade, e não são batalhas exteriores contra eventuais perigos, mas batalhas interiores travadas no íntimo de cada ser humano durante o processo essencial de evolução. O mito traz em si mesmo uma dinâmica reveladora, não são fábulas inconsequentes, eles explicitam a necessidade humana de autoconhecimento, de fazer história e desenhar destinos.
O mito de Ícaro revela a necessidade humana de ascensão, e ao mesmo tempo demonstra os perigos da exaltação emocional e psicológica que pode nos levar a confundir ilusões, pretensões e projeções mentais com as verdadeiras manifestações espirituais, e as legítimas conquistas do intelecto com deformações do psiquismo, a insensatez e a sedução da imaginação pervertida, que nos desvia da verdadeira espiritualidade.
O MITO
O ideal da cultura grega não era atingir a santidade. Esse era e é o ideal de outras culturas como a hindu e a cristã. Segundo os mitos hindus e cristãos, assim como os seus princípios norteadores, essa é a meta da espécie humana, o sentido último da vida. Os swamis (mestres e santos no hinduísmo), e os santos e santas cristãos, ou seja, os homens e mulheres divinizados são indivíduos que venceram as oscilações mentais, superaram os desejos físicos e imaginativos, e atingiram a auto-realização. Obtiveram a vitoria da natureza divina sobre a natureza humana. Livre dos desejos e da imaginação e da ansiedade geradas e movidas por esses desejos, o homem liberto não conhece mais as tentações e as angustias deles decorrentes. Ele renuncia também aos laços afetivos passageiros, e vive no mundo movido pelo mais poderoso e intenso dos sentimentos, o amor incondicional. Para ele o que é prioritário, e justifica sua permanência no mundo é o serviço ao próximo. Ele transcende a si mesmo, e a tudo e todos, por isso vive incólume. Já o ideal cultural grego não era a transcendência, era a justa medida, a harmonia tanto de caráter material quanto espiritual. Na mitologia grega os deuses podem se tornar homens, mas o homem não deve aspirar ser um deus. Na realidade a cultura grega atingiu sua meta sob o ponto de vista estético e artístico, mas ficou distante disso na pratica espiritual, pois seus deuses eram demasiadamente humanos. As distorções espirituais, também existem nas demais culturas, não é um privilégio dos gregos. Devido a uma leitura equivocada dos mitos das religiões monoteístas, criou-se a idéia de que a elevação do espírito, e a sublimação implicam sofrimento inevitavelmente, e ultrapassar obstáculos interiores, passar pelas perdas e pela renuncia, é compreendido de modo negativo. O mito de Tântalo desvela principalmente os perigos da vaidade espiritual, da ambição desmedida, e da perda dos limites na busca de atingir a realização de um desejo.
OS DEUSES OLÍMPICOS
NATUREZA E ATRIBUTOS DE ZEUS,
POSEIDON E HADES
Depois
que Zeus, Poseidon e Hades derrotaram Cronos e assumiram o poder, resolveram
escolher as regiões sobre as quais cada um exerceria a liderança e quais seriam
os domínios a eles designados. Os três se reuniram e colocaram dentro de um
elmo o céu, os mares e os oceanos e o mundo subterrâneo e escolheram os
domínios onde reinariam. Zeus escolheu o céu, Poseidon os mares e oceanos e
Hades o mundo subterrâneo, o mundo dos mortos. Em seguida Zeus se une a Hera,
Poseidon a Tetis (uma nereida conhecedora das profundezas dos oceanos), e Hades
aguarda a oportunidade de escolher sua rainha. Zeus, a partir desse momento tem
o seu poder fortalecido pelas oferendas e rituais devocionais dos mortais.
Poseidon é fortalecido pela inconstância das emoções humanas que se movimentam
como as ondas dos sete mares; e Hades, o senhor das sombras, se fortalece
através da insegurança e dos medos humanos.
ZEUS
Zeus
torna-se o protetor, o provedor e o soberano absoluto dos mundos superiores.
Ele é o representante da lei e da ordem Olímpica. Zeus representa a autoridade
absoluta e a intervenção e manipulação dos desejos humanos no mundo material. É
o deus que representa também o poder pessoal, mas se apresenta como o governador
autoritário e arbitrário, o qual limita a independência e até mesmo a qualidade
da condição humana. A figura mitológica de Zeus é o aspecto ditatorial do ego
personalidade que procura impor sua vontade a qualquer custo e não conhece
limites. A arrogância de Zeus, assim como sua prepotência, provocaram a revolta
dos 12 deuses do Olimpo. Revolta que foi aplacada somente quando Zeus prometeu
ser mais moderado e menos absolutista. Interessante observar que esse mito nos
faz refletir sobre o verdadeiro papel do ser humano diante da onipotência,
onipresença e onisciência dos deuses. Esse episódio coloca em discussão a
relação humana com o transcendental, e nos convoca para escolher entre a
autonomia pela busca do autoconhecimento, de reconhecer e viver o divino em
nós; ou a medrosa dependência provocada pela ignorância de si mesmo, o que nos
torna seres perplexos a mercê do imponderável, invisível e desconhecido. Por
outro lado, Zeus é também o poder de sublimação espiritual, simboliza nossos
combates essenciais, conflitos interiores e esforços em direção ao
aprimoramento do humano e a espiritualidade. Zeus tem como égide o raio da
inteligência e o relâmpago da intuição e revelações.
POSEIDON
Representa
a instabilidade emocional, a impermanência das formas materiais e a
mutabilidade e diversidade da manifestação dos desejos, atitudes e anseios
humanos. Poseidon deseja dominar e invadir reinos terrestres e para tal enfia
seu tridente no solo e os inunda ganhando mais poder e mais território de
atuação.
Este
mito demonstra a visão dos gregos sobre as inundações, maremotos e avanços do
mar sobre terra firme. Poseidon representa o quanto nossas emoções podem ser
devastadoras, quando são indisciplinadas e fora de harmonia, e o quanto elas interferem
no nosso corpo físico e cria novas ordens e comprometimentos. O mar, que é seu
reino, muitas vezes simboliza a vida, e por isso aprendemos a nele navegar para
que possamos conhecer o novo, diferente e desconhecido, e aprender a viver. Porém,
quem permanece apenas na superfície das águas nunca conseguirá conhecer a
beleza e as riquezas ocultas nas regiões abissais da interioridade do próprio
ser. A superfície do mar e as ondas de diferentes tamanhos são as nossas experiências
vida afora e as circunstâncias favoráveis ou não para a realização de nossas
aspirações. Nas profundezas submarinas do subconsciente, o imaginário humano movido
pelo medo cria monstros míticos, símbolos do corpo emocional sobrecarregado de
frustrações. O mar tanto fascina quanto amedronta. Isso porque a vastidão das
águas nos remete à grandiosidade da existência e à alternância das tentativas
de elevação e queda, oscilações que sofremos no processo de autoconhecimento. A
égide de Poseidon é o tridente, símbolo do consciente, subconsciente e inconsciente.
HADES
Hades
era o mais temido de todos os deuses. Seu poder era tão assustador que as
pessoas evitavam pronunciar seu nome, e são raríssimos os locais de culto ou
templos a ele dedicados. Recentemente a arqueologia descobriu ruínas do que parece
ser um templo a ele dedicado onde uma seita iniciática formada por adoradores
do mistério e da morte se reuniam em busca de respostas que garantissem a
existência da vida após a morte.
O
reino de Hades se divide entre o Érebo e o Tártato. O Érebo é o lugar onde
ficam as almas das almas recém chegadas aguardando o julgamento de Hades. O
deus depois de ponderar os benefícios e os malefícios praticados por cada alma
as libertará ou as condenará ao Tártaro local de eterno sofrimento e dor. A
idéia cristã do purgatório e do inferno se deriva da mitologia grega. A influência
dos textos gregos, em especial do orfeísmo, é muito forte nos evangelhos,
principalmente no evangelho de João. Embora Hades seja o senhor dos mortos, não
é o deus da morte; Tânatos é o deus que rege a morte, mas deve obediência a
Hades. O deus Hades só saiu do mundo subterrâneo por duas vezes, a primeira vez
quando raptou Perséfone, a filha deusa Demeter e a segunda quando procurou o
deus Apolo para curar-se da ferida que lhe infligiu Hercules quando este desceu
ao Tártaro para derrotar o cão Cérbero, o guardião inseparável dos domínios do deus
Hades. Quando Hades rapta Perséfone torna-se também o senhor das riquezas
minerais do subsolo e dos microorganismos e nutrientes que permitem que as
sementes desabrochem em flores e frutos. Essa é uma metáfora de morte e
renascimento. Para germinar a semente tem que morrer e garantir a continuidade
da vida.
Luca Giordano, O rapto de Perséfone, 1684-1686, afresco do Palácio Medici-Riccardi, Florença |
O
rapto de Perséfone, a donzela da primavera, e a dor de sua mãe Demeter, dão
origem ao mito que nos ensina sobre a força da vida latente no subsolo mesmo
quando a aridez do solo aparentemente nos faça crer que nada vive durante o
inverno. E nos mostra que mesmo quando aparentemente vivemos períodos de aridez
e tristeza dentro de nós está sendo gestado algo novo. A deusa mãe,
enlouquecida pela dor da perda da filha, torna o solo ressequido e improdutivo.
Diante do sofrimento da deusa e dos homens, Zeus resolve intervir e trazer
Perséfone de volta. Porém, temendo perder para sempre sua rainha, Hades oferece
a Perséfone um produto do seu reino, uma semente de romã. Ele sabia que se a
jovem comesse um produto do reino subterrâneo a ele ficaria pertencendo. Então,
Zeus convenceu Hades a deixar que Perséfone passasse seis meses na superfície e
seis meses no submundo. E assim, sempre que as lágrimas de felicidade da deusa
Demeter banham a terra, a volta de Perséfone torna férteis, floridos os campos,
e as colheitas se apresentam fartas. Esse é o mito grego das estações do ano.
Durante os seis meses da presença de Perséfone na superfície, a natureza fica
em festa e a abundância impera; durante os seis meses em que ela permanece nas
sombras do subterrâneo reino de Hades, o mundo se torna cinzento, as flores
morrem, as árvores perdem as folhas e Demeter chora sem cessar a ausência da
filha.
O DODEKATHEON – OS DOZE DEUSES OLÍMPICOS
O
s doze principais deuses olímpicos habitavam o cume do Monte Olimpo, a montanha que atravessava os céus. Eles se alimentavam de ambrosia, o néctar que os revigorava após as expedições terrenas e as batalhas cósmicas e humanas. Depois da invasão romana a mitologia grega foi adotada pelos romanos e foram criados novos nomes correspondentes aos mesmos deuses. Para alguns autores Poseidon e Hades não são considerados deuses olímpicos.
s doze principais deuses olímpicos habitavam o cume do Monte Olimpo, a montanha que atravessava os céus. Eles se alimentavam de ambrosia, o néctar que os revigorava após as expedições terrenas e as batalhas cósmicas e humanas. Depois da invasão romana a mitologia grega foi adotada pelos romanos e foram criados novos nomes correspondentes aos mesmos deuses. Para alguns autores Poseidon e Hades não são considerados deuses olímpicos.
(Zeus
– deus dos deuses)
(Apolo
– deus do sol, patrono das artes e das profecias)
(Hermes
– o mensageiro de Zeus, protege os estrategistas e os comerciantes)
(Ares
– o deus da guerra – da liderança e da destreza)
(Hefaístos
– o deus do fogo transformador e da forja da criatividade)
(Dioniso
– o deus do teatro, da poesia da dança, das artes em geral e da vinha)
(Hera,
esposa de Zeus – Deusa Mãe e protetora dos casamentos)
(Palas
Athena – filha de Zeus, deusa da justiça, e da sabedoria, Rege o intelecto e as
estratégias)
(Artemis
– deusa da lua e da caça)
(Afrodite
– deusa da beleza e do amor)
(Demeter
– deusa da maternidade e dos ciclos da natureza)
(Hestia
– a deusa da família, zeladora do fogo nos lares e nos templos).
MITOLOGIA
ROMANA
Júpiter
– corresponde a Zeus
Netuno
– corresponde a Poseidon
Marte
– corresponde a Ares
Apolo
– o mesmo
Vulcano
– corresponde a Hefaístos
Plutão
– corresponde a Hades
Baco
– corresponde a Dioniso
Juno
– corresponde a Hera
Ceres
– corresponde a Deméter
Vênus
– corresponde a Afrodite
Minerva
– corresponde a Palas Athena
OS DEUSES E PLANETAS COMO REGENTES ASTROLÓGICOS
Os signos astrológicos estão sob a regência dos deuses em todas as mitologias. Cada deus seria um Logos planetário. Na astrologia ocidental como na oriental existem para cada signo os regentes mundanos e os regentes esotéricos. A palavra esotérico define o conhecimento oculto, a sabedoria interior. Segundo a astrologia ocidental e oriental os regentes esotéricos ensinam qual a missão a ser desempenhada na vida, o carma antigo a ser superado, e as novas lições a serem aprendidas na vida atual. Os regentes mundanos, o Sol e o Ascendente indicam nossa atuação no mundo exterior e os problemas a serem enfrentados no ambiente em que atuamos. Há um conceito importante: trata-se da integração dos opostos, os extremos polares da roda zodiacal. Os doze signos formam o zodíaco assim como as seis polaridades. Defronte de cada casa do zodíaco está o seu oposto quer mutáveis quer fixos, e os pontos cardeais. Os deuses e planetas são arquétipos que delineiam as tendências da personalidade e do destino a ser cumprido pelos indivíduos regidos por cada signo.
Regentes mundanos
Áries - Marte
Touro - Vênus
Gêmeos – Mercúrio
Câncer
– Lua
Leão
– Sol
Virgem
– Mercúrio
Libra
– Vênus
Escorpião
– Marte
Sagitário
– Júpiter
Capricórnio
– Saturno
Aquário
– Urano
Peixes
– Netuno
Regentes esotéricos
Áries – Mercúrio
Touro
- Vulcano
Gêmeos
– Vênus
Câncer
– Netuno
Leão
– Sol
Virgem
– Lua
Libra
– Urano
Escorpião
– Marte
Sagitário
– Terra
Capricórnio
– Saturno
Aquário
– Júpiter
Peixes
- Plutão
OS DEUSES E SEUS MITOS
APOLO – O CONDUTOR DA CARRUAGEM SOLAR
Apolo
também é chamado Febo (fulgurante) e é o deus dotado de maior número de
atributos e talentos. Filho de Zeus e da titã Leto e irmão gêmeo da deusa
Artemis. Era o deus mais venerado na Grécia, depois de Zeus. Ele era
identificado com o Sol, e representado como um lindo jovem resplandecente que
iluminava tudo e todos por onde passava e que carregava sempre uma lira de ouro
na mão. Dessa lira ele tirava quando tangia suas cordas, uma musica maravilhosa
que encantava homens e mulheres, assim como todos os seres da natureza, Era o
deus da beleza, da musica, e das demais artes pois atuava como inspirador das
Musas. Apolo também era o deus da juventude, da verdade, da profecia, da
inteligência, da fecundidade, da prosperidade e da cura. Era principalmente o
portador da Luz, pela luz ele conscientizava as pessoas dos próprios erros e as
purificava. Porém, apesar de ter tantos talentos Apolo não foi feliz no amor.
Apaixonou-se por Dafne, uma ninfa, e ela o rejeitou. Louco de amor ele a
perseguiu, e na fuga Dafne em desespero transformou-se em uma arvore, o
loureiro. As folhas do loureiro, ou louro, eram mascadas pelas pessoas como
purificadoras do corpo e da mente antes de consultar o oráculo. O mais
importante Oráculo da Grécia se encontra no templo de Apolo em Delfos, e na
entrada está a estampada a famosa inscrição: “Conhece-te a ti mesmo”. Apolo também era venerado como o deus que
derrotou o dragão da ignorância, nascido do lodo que cobriu a Terra depois do
dilúvio. Sua vitoria simboliza a supremacia da luz sobre as trevas, da
consciência sobre a ignorância. No principal templo de Apolo o oráculo falava
através de Pythya, a sacerdotisa, que por sua vez entrava em transe e
transmitia as informações recebidas da serpente sagrada Pyton. Daí, as pessoas
dotadas do don de profetizar, quando são mulheres, serem conhecidas até hoje
como pitonisas. A serpente Pyton era
filha de Gaia, a Terra, e sua mãe
tornou-a possuidora dos mais ocultos segredos da criação desde os primórdios da
existência da vida. Um dos mitos conta que Hera com ciúmes de Zeus e irada com
ele e Leto pela traição, engendrou Pyton de si mesma, e a enviou para perseguir
e matar Leto, a mãe de Apolo e Artemis, quando estes ainda estavam em seu
ventre. A serpente foi submetida pela Luz de Apolo ainda no ventre materno, e
transformou-se a partir de então em sua serva fiel. Podemos dizer que Apolo é o
deus que ilumina a região sagrada existente no coração dos seres humanos; e o
fulgor de sua luz revela a beleza da vida interior. Apolo nos ensina como
podemos abrir o sacrário da alma, e nos conectarmos com a essência da sabedoria
universal.
HERMES
O
mensageiro de homens e deuses era Hermes, o intérprete da vontade dos deuses do
Olimpo. Era filho de Zeus e Maia, a mais jovem das Plêiades. O culto a Hermes
remonta ao período arcaico da historia da Grécia, ou seja, 700 a.c a 500 a.c, e
teve inicio na Arcádia região da Península do Peloponeso. Inicialmente era
adorado como o deus da abundância das colheitas, dos pastores e rebanhos e dos
elementos da natureza. Depois se tornou o patrono também dos comerciantes, dos
inventores, dos diplomatas dos inventores, oradores e magos. Hermes assim como
Ganesha na mitologia hindu e Exu na mitologia africana ioruba era o senhor das
estradas, das encruzilhadas e dos caminhantes. É um deus com múltiplos
atributos, além dos já mencionados ele rege a prosperidade e a criatividade, o
fogo sacrificial e os estratagemas, esquemas e artimanhas do intelecto. Irmão
de Apolo, o portador da Luz, quando menino o enganava para tirar vantagens
materiais e sensoriais. Do mesmo modo que o intelecto muitas vezes ludibria dos
desígnios da alma para obeter o que deseja. É um deus ambíguo que tanto pode
promover a fortuna quanto o logro com suas armadilhas. Depois do domínio romano
ele foi assimilado pelo panteão mitológico de Roma e ficou conhecido como
Mercúrio. Na mitologia grega ele foi sincretizado com o deus egípcio Toth e
chamado Hermes Trimegisto – o três vezes ungido e grandioso- . Ele é
representado como um jovem belo e forte que tem na cabeça um elmo com asas
laterais e calça sandálias também aladas. Nas mãos Hermes carrega o caduceu,
símbolo do seu poder. O caduceu é um bastão de ouro em torno do qual se
entrelaçam duas serpentes, e tem na ponta uma esfera ladeada por duas asas
abertas. É um símbolo muito antigo datado de 3000 anos a.c, que pode ser
encontrado na Índia esculpido em alto e baixo relevo representando a kundalini.
A kundalini ( serpente, cobra ) é a energia vital da qual somos portadores e
que tem a forma de uma serpente enrolada sobre si mesma. Ela se localiza no
início da coluna vertebral. A iniciação espiritual desperta essa energia
serpentina, que por sua vez se desenrola, e atinge o topo da cabeça abrindo
portais de percepção. O desenrolar dessa energia adormecida acontece no
desdobramento das energias entrelaçadas de Ida e Pingala, as polaridades
complementares, o masculino e o feminino, e os dois hemisférios cerebrais. A serpente da direita é chamada Od, e
representa a livre escolha e a da esquerda Ob, o destino, e a esfera alada
denomina-se Aur, e representa o brilho e a irradiação luminosa da consciência
alada, e sem fronteiras. Hermes é o deus portador dessa integração, é a força
que nos permite ultrapassar as barreiras das preferências e aversões, e
compatibilizar os opostos.
CARONTE – O BARQUEIRO
DAS ALMAS
TÂNATOS
Tânatos
é o deus que personifica a morte na mitologia grega, na mitologia romana,
derivada da grega, a morte é personificada pela deusa Mors. Tanatos é filho de
Nix a deusa da noite e filha do Caos e de Érebo, as trevas eternas do mundo
subterrâneo, o os domínios de Hades. Tanatos é irmão de Hipnos o deus do sono e
de Morfeu, o deus do sonho. Ele é representado como um belo jovem de cabelos
prateados e dotado de enormes asas também prateadas. Nós, seres humanos,
sofremos do chamado terror soberano; o medo da morte. Somos dentre os seres da
criação os que têm consciência de que são finitos. Para o ser humano saber que
vai morrer é um premio e um ônus. Sabemos também que a morte é inevitável, e
numa vida de incertezas, ela é a única certeza. Então, por que tememos tanto a
morte? Porque tememos a vida. Somos seres paradoxais e complexos. Temos o gosto
e a ânsia pela vida e o medo de morrer, mesmo quando a alegria de viver fica
esmaecida e os prazeres sensoriais estão inibidos por doenças ou pela
decrepitude. Todos nós nos aferramos a vida e tememos a morte principalmente
porque tememos o desconhecido. Isso porque nos esquecemos que o maior de todos
os mistérios a ser desvendado é nós mesmos. Na verdade queremos estar no
controle dos acontecimentos e dos mistérios tanto da vida quanto da morte. Por
isso queremos saber o que nos espera durante a vida e também depois da morte.
Seria a morte outra forma de vida, ou o nada, o eterno vazio? Essa inquietação
humana se faz presente em todas as mitologias e filosofias. O mito valida as
doutrinas mais divergentes assim como as diversas filosofias. Tânatos não traz
em si a emoção do medo, ele apenas cumpre o papel que lhe cabe no ciclo de
nascimentos e mortes. A emoção do medo humano, não importa qual seja o seu
objeto, implica quatro estágios: a mobilização subjetiva, que pode ser
consciente ou não – as mobilizações cerebrais decorrentes de uma emoção
ameaçadora, as sensações e secreções físicas como sudorese, respiração curta,
aumento dos batimentos cardíacos, etc., e finalmente a reação comportamental ou
a inação paralisante. Naturalmente o medo faz parte do nosso mecanismo de
sobrevivência, embora possa vir a ser a nossa temida morte, em vida. O medo
pode tornar-se a emoção doentia que nos impeça de experienciar as belezas e os
desafios que constituem a evolução da consciência na vida. Tânatos representa o
fim de um ciclo existencial e a porta aberta para o imprevisível e atemporal.
O TEMPO DOS HOMENS E O TEMPO DE DEUS
O SIMBOLISMO NA
MITOLOGIA GREGA
O símbolo é um instrumento de integração entre alma e corpo. A simbolização como um todo representa nossos anseios mais profundos. Por isso o símbolo transcende o tempo e o espaço, diante de um símbolo a mente é remetida a regiões recônditas do nosso ser. O símbolo, o herói ou deus mitológico revelam a totalidade do humano, e não apenas aspectos isolados do ego, do subconsciente ou do inconsciente, O símbolo e os mitos nos remetem diretamente ao supraconsciente, o domínio do nosso ser profundo. As batalhas dos heróis míticos simbolizam as batalhas da humanidade, e não são batalhas exteriores contra eventuais perigos, mas batalhas interiores travadas no íntimo de cada ser humano durante o processo essencial de evolução. O mito traz em si mesmo uma dinâmica reveladora, não são fábulas inconsequentes, eles explicitam a necessidade humana de autoconhecimento, de fazer história e desenhar destinos.
ÍCARO
O mito de Ícaro revela a necessidade humana de ascensão, e ao mesmo tempo demonstra os perigos da exaltação emocional e psicológica que pode nos levar a confundir ilusões, pretensões e projeções mentais com as verdadeiras manifestações espirituais, e as legítimas conquistas do intelecto com deformações do psiquismo, a insensatez e a sedução da imaginação pervertida, que nos desvia da verdadeira espiritualidade.
Minos era rei de Creta, e certa
vez desejou criar uma estrutura arquitetônica que pudesse aprisionar um monstro
que era metade homem e metade touro, chamado Minotauro. O monstro era o
resultado da traição de Pasifae, a esposa de Minos, que se apaixonou
perdidamente por Poseidon, o deus dos oceanos e regente das emoções, que por
sua vez estava enamorado dela, e para concretizar a união assumiu a forma de um
touro, um símbolo universal de virilidade, força e poder. Minos não era capaz
de desagradar Poseidon, pois temia a ira do deus, mas conviver com o produto da
traição da sua mulher era insuportável. Então, ele contrata Dédalo, pai de
Ícaro, e o mais importante arquiteto do reino para construir um lugar de onde o
monstro não pudesse escapar. Dédalo imagina e constrói o Labirinto. Dédalo e
Ícaro seu filho, são aprisionados no labirinto por Minos, que tendo descoberto
a participação de Dédalo na traição de Pasifae resolve vingar-se. Prisioneiro
do seu próprio engenho Dédalo resolve fugir criando asas de cera para si e seu
filho Ícaro. Podemos perceber que o simbolismo de Dédalo, é o intelecto a
serviço de si mesmo, que por isso torna-se prisioneiro das suas criações, O
labirinto do subconsciente simboliza a exaltação inconseqüente do desejo, e as
asas de cera a insuficiência dos meios empregados para encontrar soluções
quando somos prisioneiros da ansiedade. Dédalo prende as asas de cera nas
costas de Ícaro e recomenda que ele voe para fora da Terra, mas principalmente
que não se aproxime demais do Sol. Vejamos o significado disso: O intelecto se
utiliza da imaginação exaltada e desligada do espírito, por isso não pode
atingir o sublime, a Luz. Dédalo é o intelecto astucioso e Ícaro o intelecto
vaidoso, que sempre estão interligados como pai e filho. Ícaro ignora os
conselhos de Dédalo, e propõe-se a atingir o Sol. Durante o seu vôo se esquece
da recomendação do pai e se aproxima demais do Sol. Como suas asas artificiais eram
feitas de cera se derretem com o calor e ele cai no mar. Podemos observar que
para atingir a Luz artifícios e artimanhas são inúteis, a medida que Ícaro se
aproxima da Luz, do espírito, utilizando-se de artificialidade é traído pelo
artifício no qual confiava. O resultado é a dor infligida pela sua pretensão e o
seu auto-engano. Ele cai no mar, um
símbolo da vida, até costumamos dizer que nós navegamos no oceano da vida.
Poseidon o deus dos mares e oceanos é o regente das emoções humanas, emoções
que vêm em ondas de diferentes tamanhos e formatos; e Ícaro por imprudência e
vaidade procurou enganar o espírito, a Luz, e então é obrigado a sentir as
conseqüências da sua ignorância e foi engolido pelas águas das emoções
exaltadas. Hermes é o deus que simboliza o intelecto iluminado, a serviço do
espírito, simbolizado por sua vez por Zeus, é o seu mensageiro, pois o
intelecto a serviço da Luz é o intermediário entre o espírito e o homem. Ícaro
representa também o impulso natural do desejo de elevação de ir além das
convenções e da banalidade. E demonstra que devemos estar atentos para não
confundir as necessidades do espírito com as do intelecto.
TÂNTALO
O ideal da cultura grega não era atingir a santidade. Esse era e é o ideal de outras culturas como a hindu e a cristã. Segundo os mitos hindus e cristãos, assim como os seus princípios norteadores, essa é a meta da espécie humana, o sentido último da vida. Os swamis (mestres e santos no hinduísmo), e os santos e santas cristãos, ou seja, os homens e mulheres divinizados são indivíduos que venceram as oscilações mentais, superaram os desejos físicos e imaginativos, e atingiram a auto-realização. Obtiveram a vitoria da natureza divina sobre a natureza humana. Livre dos desejos e da imaginação e da ansiedade geradas e movidas por esses desejos, o homem liberto não conhece mais as tentações e as angustias deles decorrentes. Ele renuncia também aos laços afetivos passageiros, e vive no mundo movido pelo mais poderoso e intenso dos sentimentos, o amor incondicional. Para ele o que é prioritário, e justifica sua permanência no mundo é o serviço ao próximo. Ele transcende a si mesmo, e a tudo e todos, por isso vive incólume. Já o ideal cultural grego não era a transcendência, era a justa medida, a harmonia tanto de caráter material quanto espiritual. Na mitologia grega os deuses podem se tornar homens, mas o homem não deve aspirar ser um deus. Na realidade a cultura grega atingiu sua meta sob o ponto de vista estético e artístico, mas ficou distante disso na pratica espiritual, pois seus deuses eram demasiadamente humanos. As distorções espirituais, também existem nas demais culturas, não é um privilégio dos gregos. Devido a uma leitura equivocada dos mitos das religiões monoteístas, criou-se a idéia de que a elevação do espírito, e a sublimação implicam sofrimento inevitavelmente, e ultrapassar obstáculos interiores, passar pelas perdas e pela renuncia, é compreendido de modo negativo. O mito de Tântalo desvela principalmente os perigos da vaidade espiritual, da ambição desmedida, e da perda dos limites na busca de atingir a realização de um desejo.
INTERPRETAÇÃO DO MITO
DE TÂNTALO
Tântalo era rei da Frigia ou
Lídia, em outras versões era o rei de Corinto. Era um rei poderoso e seu reino
era próspero. Tântalo era metade humano e metade divino, pois era filho de
Zeus e Plota uma mortal. Era casado com
Dione, sua rainha, e tinha três filhos: Níobe, Dascilo e Pélops. Ele tinha a
felicidade de ser muito querido pelos deuses do Olimpo e por isso obtinha
muitas benesses e privilégios, um deles era ser convidado a compartilhar dos
banquetes dos deuses. Certa vez, ele quis retribuir os convites e ofereceu aos
deuses um banquete. Para mostrar que era tão poderoso e criativo quanto os
deuses ele quis servir algo inédito, e para tal não hesitou em sacrificar Pelops,
o seu filho mais querido, e oferecer sua carne como iguaria. Porém, os deuses
oniscientes, imediatamente perceberam o crime hediondo e indignados recusaram a
oferenda, apenas a deusa Deméter que devido a perda de sua filha Perséfone,
estava tão mergulhada na própria dor que não percebeu, e inadvertidamente comeu
um pedaço do ombro do finado Pélops. Zeus indignado, imediatamente ressuscita o
menino e reconstitui com mármore o pedaço do ombro que inadvertidamente Deméter
mordeu. A seguir delibera a punição de Tântalo, o infrator da ordem olímpica e
da medida justa. Zeus condenou Tântalo ao suplício de sofrer de sede e fome
eternas. Embora devido ao seu castigo devesse ficar imerso na água, mas toda
vez que ia bebê-la ela desaparecia, e acima de sua cabeça pendiam os galhos de
árvores com frutos maduros e perfumados, porém sempre que ele tentava pegá-los,
o vento soprava e tirava-os do seu alcance. Seus descendentes foram punidos
também e condenados ao martírio da eterna insatisfação. O ego personalidade, na
ânsia de atingir seu objetivo vaidoso e irresponsável não valoriza o que possui
e supervaloriza o que quer obter. O mito de Tântalo também demonstra como é fundamental
estarmos atentos aos desejos que movem nossas ações, pois nunca sabemos qual a
extensão das conseqüências da nossa pretensão, nem a ressonância dos nossos
atos. O suplicio de Tântalo é o desespero de ter o que desejamos ao nosso
alcance, e sempre que chegamos perto de obter o objeto do nosso desejo, ele
escapa das nossas mãos.
PROMETEU, EPIMETEU E
PANDORA
Prometeu com o fogo sagrado |
Na história de Prometeu
encontramos a versão grega da criação do mundo e veremos que ela é muito
semelhante a da Genesis da Bíblia cristã. No início tudo era vazio e amorfo, não
havia luz, e a terra o ar e a água estavam misturados. Uma entidade denominada
Caos reinava juntamente com a deusa Noite e seu filho Érebo, o deus das Trevas.
Érebo tinha dois filhos, a Luz e o Dia e estes criaram o espaço e preencheram
tudo com sua imensa radiância. Foi quando Eros, o deus do amor nasceu. Então
Eros, a Luz e o Dia transformaram trevas em luz, desordem em ordem, e a
discórdia em harmonia. Separaram o Céu e a Terra, e nesta dividiram a terra
firme das águas. Eles criaram uma raça de gigantes, os Titãs, e Prometeu
(aquele que vê antes, o pré-vidente) era um dos mais poderosos dentre os
membros dessa raça recém-criada. Por isso, Eros confiou a ele e a seu irmão
Epimeteu (aquele que só vê depois), uma grande tarefa: a distribuição dos sentidos,
instintos, dons, e talentos para todos os seres vivos e, além disso, a criação
de um ser perfeito, mas que fosse inferior aos deuses, e superior as animais em
beleza, inteligência, conhecimento e discernimento. Prometeu distribuiu os
instintos e dons entre os peixes, aves e feras de modo tão excelente que não
restou o algo mais que deveria doar ao novo ser para diferenciá-lo dos demais
seres. Foi quando sua coragem, inteligência e criatividade o inspiraram, e ele
pegou uma quantidade de terra, misturou com água, e modelou com essa argamassa
uma figura semelhante aos deuses: o Homem. Eros soprou em suas narinas o
pneuma, o hálito divino, o espírito da vida. Pala Atena teceu os fios
intrincados da sua mente e infundiu-lhe a alma. O homem então abriu os olhos e
maravilhou-se vendo a natureza, e enamorou-se do esplendor da diversidade
daquilo que viria a ser a sua herança. Prometeu ficou fascinado com o resultado
da sua obra, porém ficou apreensivo quando verificou que sua criação era
vulnerável, frágil, estava nu, e desprotegido física e mentalmente; portanto a
mercê de perigos de todo tipo. Preocupado com o destino do Homem Prometeu foi
até Zeus e pediu que o senhor do Olimpo se apiedasse dele, e o protegesse com
um dom especial. Porém, não obteve a graça de Zeus. Foi quando Prometeu decidiu
dar ao homem algo jamais concedido, o fogo criativo e criador do espírito
imortal. Decidido, ele disse a Epimeteu que daria ao homem um dom que nenhum
dos seres da Terra teria, o fogo dos deuses.
Quando surgiu a oportunidade ele rumou para o Olimpo, e acendeu uma
tocha em uma faísca da carruagem de Apolo, e a seguir voltou correndo para a
Terra trazendo nas mãos o fogo sagrado. Dotado desse don divino o homem, sua
criatura, não temeu mais as ameaças das
intempéries da natureza, os raios e trovões, nem a força dos animais que o
caçavam. Possuidor do fogo o homem dominou e transformou a natureza domou as
feras e vestiu-se com suas peles, forjou armas para sua defesa, criou
instrumentos para explorar a agricultura, recebeu a dádiva da inspiração e
criou as artes, e principalmente pode escolher seu destino, e optar por
construir ou destruir. Enfim, obteve o livre arbítrio, a liberdade de escolha,
o seu maior presente e também o seu maior ônus.
A IRA DE ZEUS E A
CRIAÇÃO DE PANDORA
Quando Zeus descobriu a façanha
de Prometeu foi tomado de terrível fúria, convocou o conselho dos deuses para
deliberar a pena que deveria ser imposta a Prometeu pelo seu atrevimento.
Hefaístos, o deus dos vulcões e da forja foi encarregado de criar uma criatura
que seria perfeita, e tão irresistível que traria com ela a perdição de
Prometeu. Ele então criou uma mulher. As deusas se apressaram em adornar a
criatura com lindas vestes e jóias deslumbrantes. Hefaístos criou um diadema de
ouro formado com pequenas esculturas de todos os seres da natureza, e com ele
adornou a cabeça da sua criatura. Hermes concedeu-lhe o poder da palavra. Apolo
deu a ela o dom da musica, e Afrodite emprestou-lhe sua sedução e beleza
incomparáveis.
Pandora |
Depois escolheram um nome para ela: Pandora (a presenteada por
todos os deuses). Pandora foi conduzida por Hermes para a Terra, e foi
apresentada a Prometeu como uma dádiva, um presente dos deuses. Prometeu não se
deixou enganar nem enfeitiçar pelos encantos de Pandora, percebeu que havia
algo errado naquele presente, pois sabia que infringira uma lei olímpica.
Temeroso, avisou Epimeteu para que não se deixasse enganar. Porém, Epimeteu (o
que só vê, e percebe depois), símbolo da mente instintiva sem filtros, que se
deixa guiar pelos desejos e compulsões, apaixonou-se perdidamente por Pandora, e não obedeceu nem acreditou nos
conselhos do irmão. Pois bem, quando Prometeu distribuiu os dons entre os
animais e moldou o corpo do homem cuidou para que a dor, o sofrimento, as
doenças, a angústia, amargura, inveja, malicia, mentira, desalento, mágoa,
tristeza e outros males fossem evitados.
Para tal colocou-os em uma caixa e
fechou, deixou a caixa e a chave aos cuidados de Epimeteu. Pandora estava
deslumbrada com o mundo de formas, cores e mistérios onde ela foi parar, e
tinha enorme curiosidade por tudo que via. Ela tudo perguntava e tudo pedia
para Epimeteu, e ele loucamente apaixonado, a ela tudo concedia. Um dia,
Pandora viu a caixa e perguntou a Epimeteu o que havia dentro dela. Ele respondeu
que não sabia, e que somente os deuses conheciam o conteúdo da caixa. Foi
quando Zeus e os deuses aproveitaram o ensejo e fizeram de Pandora (a tentação)
seu instrumento de vingança. Induziram-na a procurar a chave e abrir a caixa, e
assim libertar os males nela contidos. Os males foram libertados e todos os
flagelos, defeitos e antivalores humanos se espalharam pela Terra. Pandora
vendo o mal que havia feito tentou reverter a situação fechando a caixa, mas
foi tudo em vão. Muito aflita, ela de
repente percebeu no fundo da caixa algo surpreendente. Os deuses tinham colocado
entre todos os males, um dom benevolente: a Esperança. E assim a esperança foi instalada no coração
dos homens e mulheres, não como o ato de esperar inerte por algo, mas como o
dom de crer em si mesmo, na vida e no divino e agir com coragem, criatividade e
lucidez para que seu anseio se realize.
O CASTIGO DE PROMETEU
O suplício de Prometeu |
Zeus se vingou dos homens
espalhando através da imprudência e irresponsabilidade de Pandora os males e
defeitos humanos, mas para Prometeu ele reservou um suplício além de terrível,
eterno. Mandou que acorrentassem
Prometeu a uma rocha do Monte Cáucaso, numa altura vertiginosa, e o titã ficou
preso contra a rocha áspera enquanto diariamente um abutre fétido e repelente
devorava-lhe o fígado. A ave no fim do dia voltava para o seu abrigo cumprindo
desse modo a vontade de Zeus. O fígado e a carne de Prometeu então dilacerados,
se refaziam, e ele via o seu corpo se recompor para ser novamente devorado pelo
abutre no dia seguinte. Prometeu poderia livrar-se do suplício se reconhecesse
que havia errado quando deu ao homem o fogo divino, o intelecto e o poder do
conhecimento. Zeus queria que ele pedisse perdão. Ele não conseguia conceber como
poderia ser um erro o roubo do fogo sagrado pois, já que Zeus lhe ordenara a
criação do homem à sua semelhança, não poderia negar-lhe a divina chama. E assim
ele permaneceu acorrentado durante séculos, num sofrimento sem trégua. Poderia
também ter obtido a liberdade se revelasse a Zeus uma conspiração dos deuses
para destroná-lo. Contudo, preferiu o sofrimento atroz do que criar a
dissídia entre os deuses, e não queria
privar sua criatura do poder de ser cocriador com os deuses da vida e
dos destinos da Terra.
Hércules |
Hércules, filho de Zeus com uma mortal, portanto metade
homem e metade deus, depois de cumprir as 12 tarefas que lhe impuseram, foi
purificado e deificado devido aos seus próprios esforços. Quando o herói
divinizado viu o martírio de Prometeu, sentiu profunda compaixão, enfrentou e
derrotou o abutre, e livrou Prometeu do seu tormento. Hércules, o herói
salvador, conseguiu reconciliar Zeus e Prometeu, e assim, a culpa primordial a
este imputada, pelo roubo do fogo divino, é redimida.
A analogia entre o mito de
Prometeu e o sentido mais profundo da Gênese bíblica cristã é muito evidente, e
em ambos os casos, a queda, a punição e a redenção estão presentes. O roubo do
fogo cometido por Prometeu e a maçã colhida e saboreada por Eva e Adão,
resultam respectivamente na condenação de Prometeu ao eterno suplício, assim
como na expulsão de Adão e Eva do Éden. Os filhos de Prometeu foram condenados
pela imprudência de Pandora ao sofrimento, às doenças e à morte, assim como
filhos de Adão foram condenados ao sofrimento e à morte pela desobediência. Os
filhos de Adão e Eva carregam a mácula do pecado original, e são redimidos pelo
Homem-Deus, o Cristo Redentor. Prometeu é redimido por Hércules, o homem-deus
que, por compaixão, o liberta. O fogo dos deuses, assim como a maçã, o fruto da árvore proibida, são metáforas do conhecimento, da libertação da ignorância
primordial. A espada chamejante do serafim no mito cristão aponta a saída do
Jardim do Éden, ou seja, da inocência oriunda do desconhecimento. E ao mesmo
tempo descortina novos horizontes e mostra a Adão e Eva as polaridades e a
complementaridade, o amor, a beleza das diferenças, e os fascinantes desafios
inerentes ao mistério da vida.
O DEUS PAN
Pan ou Pã é uma divindade muito
antiga cujo registro remonta aos pelasgos, à Arcádia. Na mitologia grega reza o
mito que ele era filho de Hermes, o mensageiro dos deuses e da ninfa Timbris. É
o deus que marca a transição da matéria diferenciada entre o humano e o animal.
Quando Pan nasceu sua mãe assustou-se devido ao seu aspecto inusitado, o menino
tinha chifres e cavanhaque, o tronco era humano e brilhava muito, mas as coxas,
as pernas e os pés eram de bode. Sem conseguir aceitar o filho Timbris fugiu
abandonando o menino-bode. Hermes se compadeceu do filho e envolveu-o numa pele
de ovelha para protegê-lo e aquecer seu estranho corpo. Em seguida voou para o
Olimpo e apresentou o filho aos deuses. Os imortais se alegraram com a criação de
Hermes, em especial Dioniso que o denominou Pan, o todo abrangente A seguir
designou que Pan deveria proteger as matas, as florestas, os animais e a
natureza de modo geral. O novo deus teria como tarefa principal fazer com que
as plantas, os animais e os humanos se reproduzissem para garantir a
continuidade da vida na Terra. Eros não gostou de Pan e o desafiou para um
luta. Derrotou Pan e o condenou a nunca possuir o que desejava, condenou o
filho de Hermes a desejar eternamente.
Na antiga Arcádia ele era um deus
eminentemente pastoril, encarregado de pastorear as ovelhas e fazer com que elas
se reproduzissem, Mais tarde por influência do orfeísmo, religião atribuída a
Orfeu, e que muito influenciou os escritos bíblicos, principalmente os escritos
de João nos seus evangelhos; Pan tornou-se um deus universal com domínios no
Céu e na Terra. Isso lhe foi atribuído devido ao poder da sua flauta cujo som e
ressonância segundo o orfeismo contribuía para a harmonia universal, devido a
mágica ação das 7 notas que trazem em si mesmas a música, o ritmo, a pausa e o
silencio. O corpo de Pan traduz a união da natureza com o universo. Os chifres
seriam os raios solares, o brilho de sua pele o esplendor das estrelas, e as
pernas peludas e os pés fendidos, os animais e as plantas. Pan é um deus de
muitos amores vãos, porém tem as graças de Selene, a deusa da Lua. A deusa
costuma visitá-lo sempre nas montanhas e nos vales espalhando sua luz mística inspiradora
de magia e enlevo. Entre os gregos Pan ganhou maior prestígio quando durante a
batalha de Maratona interveio e contaminou os guerreiros persas com temores
súbitos e inexplicáveis, e visões aterradoras, o que ajudou muito os gregos a
saírem vencedores.
Pan perseguindo Syrinx - tela de Hendrick Van Balen |
A palavra pânico deriva do deus Pan, pois ele costumava
incutir medo paralisante nos invasores do seu reino, a floresta. O deus das
florestas costumava perseguir as ninfas sempre louco de desejo, e elas sempre
fugiam dele. Certa vez, ele avistou a ninfa Syrinx, que era amante da caça. Ele
se aproximou tomado de desejo e tentou possuir a ninfa a força, Syrinx
apavorada correu na direção do rio Ladon, que era seu pai, e este convocou as
outras ninfas para acudirem-na. Elas a acolheram, mas mesmo assim Pan quis
abraçá-la, foi quando viu que ela havia se transformado num feixe de caniços
desiguais. Desalentado, e ainda fremente de emoção Pan uniu os caniços com cera
de abelha, e criou a sua flauta encantada. Desde então quando Pan tocava sua
flauta as ninfas se reuniam ao seu redor para dançar ao som de sua musica, isso
deleitava o deus condenado por Eros a nunca ter o que mais queria. Na Roma
antiga Pan, era chamado Fauno ou Sátiro, era o deus da sexualidade, da malícia
e da luxuria, e a ele eram oferecidos festivais e orgias eróticas. Durante o
neo-paganismo e também no cristianismo Pan foi identificado com Satanás.
Paradoxalmente na era vitoriana onde havia tanta repressão de toda ordem e
principalmente erótica, ele apareceu como um símbolo poderoso. O bode é símbolo
de potencia sexual e fertilidade. A ele foram atribuídos poderes para elaborar vários
feitiços, e conceder a liberação sexual. Pan sob a forma de um bode segundo
relatos da Idade Média seria adorado nos rituais mágicos das bruxas. Na verdade
Pan representa o poder da energia sexual, que precisa ser respeitada, conscientizada
e canalizada. A espiritualidade não é incompatível com a sexualidade. Embora a sexualidade
possa ser sublimada, caso essa seja a vontade de um indivíduo, não pode ser negada.
Quando o ser humano reconhece suas funções físicas sexuais como um dom divino
que lhe concede a parceria na co-criação da vida, o descontrole, o desrespeito
e o desperdício irresponsável dessa energia poderosa são evitados. Não se trata
de defender repressões, que podem gerar distorções, além do mais os pensamentos
podem ser mais obscenos do que as ações reprimidas. O corpo, a matéria, está a
serviço do ser humano, portanto somos senhores, e não escravos dos nossos
instintos. O corpo tem condicionamentos e o espírito é livre, mas isso não cria
incompatibilidade entre eles, um se utiliza do outro para se expressar e
evoluir. Somente quando Pan e Eros, o sexo e o amor são reconciliados dentro da
mente e do coração do ser humano a plenitude das funções humanas são exercidas
naturalmente. A sexualidade e suas complexidades não podem ser vistas como algo
sujo e inferior, como aspecto negativo, pois é inerente a vida. Pan o deus da
preservação e reprodução da vida, se apresenta como um animal, um homem e um
deus, ele exemplifica a coexistência harmônica dos três aspectos do humano.
Seu texto tem muita informação! Excelente blog! Fui fascinada pela mitologia desde que eu era criança. Alguns dias atrás eu assisti Animais Fantásticos e Onde Habitam Filme e amei. ❤️ As criaturas que aparecem são de natureza diversa e muito impressionantes! A produção é excelente, se você gosta desses temas, é um fato que você vai adorar essa história.
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